por Gilberto Dimenstein
da Folha
Não gosto de rap, meu ouvido foi educado para outros ritmos. Gosto ainda menos daquela indumentária e dos trejeitos dos seus cantores, copiados dos americanos, numa servilidade colonizada --algo que se vê, na mesma medida, com nossa elite, curvada para o que vem de fora. Não consigo ver neles nada parecido com o encanto e, muitas vezes, a profundidade de nossos repentistas nordestinos.
Mas, por outros motivos, aprendi a respeitar o rap e, por isso, considero injustas críticas lançadas contra o Mano Brown, acusando-o de ter incitado a violência na Virada Cultural. Tais críticas refletem uma visão preconceituosa não contra um estilo musical mas contra a periferia.
A violência das letras de muitos rappers refletem o ambiente em que vivem, marcado pelo desrespeito e, por isso, estabelecem uma vinculação tão forte com jovens da periferia.
Testemunhei como muitos rappers, como Mano Brown e Rappin Hood, se preocupam em difundir uma cultura de paz; Mano Brown, junto com o escritor Ferrez, criou uma biblioteca onde era antes um ponto de drogas. Não são fatos isolados. Fazem parte da própria cultura do hip hop, na qual se vê a arte como forma de integração. Cria-se assim um elo com quem não tem elo.
O que aconteceu na Virada Cultura é culpa de um grupo de marginais que estavam esperando qualquer pretexto para extravasarem sua marginalidade --e, em certa medida, do poder público que programou o show para aquele horário e naquele lugar, sem saber que, em muitos desses espetáculos, existem conflitos, mas que poucos tomam conhecimento justamente porque acontecem na periferia, bem longe de nossos olhos.
PS - Defendo, porém, que não se chame mais os Racionais para tocar em eventos públicos se não assumirem o compromisso de respeitar a platéia. Até onde sei, foram os únicos a se atrasarem. Que façam isso com dinheiro privado, é problema deles. Com dinheiro público, é nosso.
terça-feira, 8 de maio de 2007
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